quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

De Emerald City para o mundo, os Nirvana deixaram em 1989 um documento de vital importância para perceber as movimentações do underground. E algo mais.

Parece que foi ontem que o grunge, chegado da industrial Seatle, se instalou de armas e bagagens no virar da esquina para os anos 90, erguendo-se do underground para provocar o mainstream e criar um abanão que se sentiu no rock um pouco por todo mundo. Falar dessa época sem falar dos Nirvana é, grosso modo, uma barbaridade. E falar dos Nirvana sem falar de Bleach, o disco que ainda em 1989 lançou as bases de um dos episódios mais marcantes na música das últimas décadas, uma atrocidade ainda maior.
O cheiro da juventude queimada, de uma geração desiludida (mais uma vez), o som proveniente do tédio e do aborreciemento. Parece que foi ontem, mas foi há 20 anos. Tanta coisa mudou entretanto e mesmo assim ainda é possível ouvir fúria e o inconformismo na voz, nas palavras e na guitarra de Kurt Cobain, que de herói havia de virar mártir. Bleach não é apenas o ADN dos Nirvana mas sim a frente da batalha, é um daqueles discos raros que define o local e o tempo com uma precisão exacta, que tem uma dimensão extra-musical.
Canções como “School” e “Negative Creep” desenharam um cruzamento alimentado pelo punk rock e pelo heavy metal, foi assim que muita gente ficou a pensar quando ouviu o albúm pela primeira vez, algo que nunca se esperaria ouvir-se.
Gravado em apenas alguns dias por uma bagatela (600 dólares diz a lenda), Bleach não se tornou icónico logo ali, foi preciso chegar Nevermind dois anos depois para que, em retrospectiva, fosse possível descobrir um disco que lançou as sementes não só para o grunge como para os próprios Nirvana.
Hoje, 20 anos depois do parto, Bleach soa exactamente como devia soar: como um retrato possível de uma geração (de bandas, de anónimos) que encontrou em Kurt Cobain o seu porta-voz.


Gonçalo

1 comentário: